Situando-se também sob o guarda-chuva da pós-modernidade, a Terapia Narrativa
proposta por Michael White e sua equipe do Dulwich Centre de Adelaide na Austrália, define-se
como um enfoque respeitoso, não culpabilizador que considera as pessoas como especialistas em
suas vidas. Embora apresente diretrizes específicas para o terapeuta colocar-se em conversação
com as pessoas, famílias e comunidades, esta terapia narrativa organiza-se também
dialogicamente em mútua colaboração entre o terapeuta e todos os participantes do processo
terapêutico. Os organizadores temáticos das conversações são dados pelas preferências das
pessoas consultantes, às quais o terapeuta procura conhecer e se adaptar. Perguntas sobre o
andamento da conversação, os caminhos que estão sendo percorridos, caminhos alternativos
possíveis e preferidos, permitem ao terapeuta orientar-se por um território em que a pessoa em
terapia coloca-se como cicerone. Os constantes ajustes de rota permitem não só respeitar os
interesses das pessoas como também os seus conhecimentos – como insiders – numa atitude
respeitosa e legitimadora por parte do terapeuta.
Esta terapia narrativa enfatiza a desconstrução das histórias dominantes e das práticas
subjugadoras do self que, cristalizadas nos relatos sobre as vidas e identidades, restringem as
possibilidades existenciais e têm o status de verdades sobre as pessoas e suas vidas. Começando
pelo mapeamento dos efeitos do problema sobre a vida da pessoa, as relações, as perspectivas de
futuro e a visão de si mesma, o terapeuta desenvolve uma conversação especial que promove o
resgate das identidades dos domínios do problema, bem como a memória de que os problemas
são construídos nos contextos das experiências vividas. A proposta de externalização, situando a
pessoa e o problema como entidades distintas, contribui para desessencializar o self, ao tornar
conhecidos os contextos organizadores das narrativas opressoras das quais as pessoas constroem
empobrecidas visões de si mesmas e restritas possibilidades existenciais (GRANDESSO, 2002;
2006b). Partindo do pressuposto teórico de que a experiência é muito mais rica do que qualquer
possibilidade narrativa (BRUNER, 1997), o terapeuta procura por acontecimentos extraordinários
que contradigam as histórias dominantes, apresentando áreas da vida da pessoa livres da
influência do problema e que descrevam um sentido de agência e competência. Ao resgatar a
memória de episódios vividos que contradizem as histórias dominantes, o terapeuta promove uma
conversação de re-escritura das histórias de identidade, ao incluir nas novas narrativas aspectos
negligenciados pelas histórias dominantes. A reconstrução narrativa decorrente do trabalho
terapêutico caracteriza este modelo de terapia como sendo de re-autoria da autobiografia.
Considerando-se que as histórias são construídas e legitimadas no mundo da vida, o terapeuta
narrativo pode fazer-se valer de participantes convidados pela pessoa em terapia, funcionando
como testemunhas externas das novas versões de identidade fora dos domínios do problema.
Pessoas vivas ou mortas que por alguma razão foram referências importantes para a pessoa no
passado, podem ter resgatadas suas vozes, fazendo-se presentes ou na imaginação, através dos
processos de questionamento ajudando não só a construir histórias mais ricas como a ancorá-las.
Assim, considerando a vida como se fosse um clube, influenciado pelo trabalho da antropóloga
cultural Bárbara Myerhoff que trabalhou com uma prática conhecida como cerimônia de
definição6
, uma prática narrativa nesses moldes, favorece a abertura para mundos mais ricos, ao
promover a polifonia vinda de diferentes contextos de relação.
Embora essa prática de terapia conte com muitos recursos de conversação – conversações
externalizadoras, conversações de re-autoria, conversações de re-associação (do inglês re-
membering), uso de testemunhas externas, rituais terapêuticos, cerimônias e documentos – cada
processo terapêutico é único e como diz Morgan (2000), muitos são os caminhos possíveis,
cheios de bifurcações, idas e vindas, cada passo conduzindo a um novo horizonte possível e cada
pergunta a uma nova versão de vida.
O trabalho criativo do terapeuta narrativo na construção de “mapas narrativos”
(WHITE, 2007), exige do terapeuta uma postura de escuta atenta e de paciência para as idas e
vindas nos andaimes que alicerçam e sustentam as novas narrativas. Apoiado nas idéias de
Michel Foucault, White define o terapeuta narrativo como uma espécie de ativista sociopolítico
que denuncia práticas culturais colonizadoras que marginalizam pessoas e comunidades em nome
de discursos normatizadores e dominantes. Todo o trabalho de Michael White, David Epston, Jill
Freedman e Gene Combs, ilustram essa prática de terapia libertadora (WHITE, 1988; 1991; 1993;
2004; 2007 WHITE & EPSTON, 1990; FREEDMAN & COMBS, 1996).

O que é e para que serve a Terapia Natural ou Holística que hoje é conhecida e chamada oficialmente como Terapia Complementar? A visão da Terapia Complementar tem como fundamento a relação de harmonia que se faz entre o homem e o Universo. Na visão holística somos um todo em três - mente, corpo e espírito e quando em ordem e equilíbrio somos saúde holística e perfeição natural.
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