Assistente Social Em Práticas Integrativas Complementares.

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Ciências Tradicionais Holisticas

domingo, 11 de setembro de 2011

E AGORA JOSÉ

 QUEM VAI ACREDITAR NA SUA HISTÓRIA? DO 
DELÍRIO À LIBERTAÇÃO 
É nesse contexto que se insere a história de Sr. José, um maranhense que vivia numa favela da periferia de São Paulo e participante das sessões de Terapia Comunitária das quais eu pude ser uma das terapeutas.
 Aprisionado numa narrativa cuja organização temática configurava uma defesa por não ter roubado galinhas na terra em que nascera e crescera, Sr. José respondia a toda e qualquer tentativa de conversação, contando a mesma história: ‘ói gente, eu não roubei galinhas.
  Eu sou um cara trabalhador e eu não roubei galinhas. Se roubei... Só se foi dormindo..
.”  Naturalmente, uma tal narrativa, redundante e descontextualizada, configurava um círculo vicioso afetando negativamente a aceitação e inclusão de Sr. José nas práticas de convivência no grupo, da mesma forma que a presença de Sr. José com esse discurso também revertia em mal estar para os presentes.
 Desde a primeira vez que Sr. José participou de uma sessão de Terapia Comunitária, pudemos 
compreender o que Sluzki (1997) chama de espiral de deterioração recíproca, ao descrever 
o impacto negativo das dificuldades crônicas tanto na saúde do indivíduo como na 
qualidade da rede social da qual ele faz parte.
 Inevitavelmente, um tal discurso tanto contribuía para uma retração da rede social possível para Sr. José, poucos o levavam a sério e manifestavam qualquer interesse em estar com ele.
 Mesmo dentro da sessão de Terapia Comunitária, quando Sr. José respondia a todo e qualquer aporte contando a mesma história, as pessoas riam e mudavam de assunto, resultando numa aura de isolamento cada vez mais intenso...
Sabemos também, pelos estudos sobre rede social que pessoas menos integradas socialmente têm uma qualidade empobrecida de vida, estando mais sujeitas ao adoecimento e até mesmo às morte.
 Por outro lado, um senhor idoso e motivo de risos num grupo de Terapia Comunitária, sem dúvida, não poderia contribuir para uma dinâmica saudável, se tivermos como eixos norteadores o respeito incondicional pelo ser humano.




Apesar da repetitividade do discurso de Sr. José, chamou-nos a atenção que, a
história dominante sobre um suposto roubo de galinhas, não havia tomado conta de todas as
possibilidades de estruturação de seu pensamento. Numa sessão de Terapia conduzida por
Adalberto Barreto com nossa comunidade, quando de um workshop em São Paulo, Sr. José
respondeu com a mesma história a uma pergunta dirigida por Adalberto a cada membro
presente - ‘Por que as pessoas bebem?’
 Da mesma forma que sempre acontecera, os participantes riram. Porém, naquele momento, uma agente comunitária presente, colocando-se na frente do velho senhor e olho no olho, lhe disse: “Não é isso, Sr. José... ele está perguntando por que as pessoas bebem...” Surpreendentemente, Sr. José respondeu:
“Ah... é por amor e por falta de dinheiro no bolso..
.” Contudo, na sessão posterior que realizamos, agora sem a presença de Adalberto Barreto, a mesma história de auto-defesa por não ter roubado galinhas voltou a aparecer no discurso de Sr. José. Conviver com essa história tal qual havíamos feito até então, no nosso entender estava servindo não só para
cristalizá-la, mas também por manter uma a atitude de desvalorização da comunidade em
relação ao solitário senhor.
Assim, decidimos realizar um Ritual de Expiação de Dívidas

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