Assistente Social Em Práticas Integrativas Complementares.

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Ciências Tradicionais Holisticas

terça-feira, 23 de agosto de 2011

TERAPEUTAS COMUNITÁRIOS


 
Entrevista com Henriqueta Camarotti 



Em entrevista à revista eletrônica www.responsabilidadesocial.com, a psiquiatra Maria Henriqueta Camarotti fala sobre os excelentes resultados alcançados em comunidades carentes por meio da Terapia Comunitária. Em Brasília, foi realizado o II Congresso Brasileiro de Terapia Comunitária. Conheça melhor esse trabalho que tem levado cidadania e auto-estima a várias cidades brasileiras.
1) Responsabilidade Social – Como se deu o seu envolvimento e conhecimento sobre Terapia Comunitária?
Henriqueta Camarotti – Meu envolvimento com a Terapia Comunitária (TC) foi um encontro maravilhoso por ser a resposta a muitas questões antigas na minha vida profissional. No caminho percorrido na saúde mental sempre vislumbrei a vontade de chegar mais intimamente nas pessoas mais simples e desprotegidas. As instituições não alcançam essas pessoas e elas não conseguem achar um canal de atendimento às suas necessidades dentro da rede pública. São pessoas que sofrem de muitas maneiras, mas não são reconhecidos como seres merecedores de cuidados. Podem não ter uma doença oficialmente diagnosticada, mas padecem do sofrer, do abandono, da angústia do viver em situação de tanta violência. Minha questão central se resume em como utilizar tantos avanços nas áreas da psiquiatria, psicologia, reflexões existenciais, infinitas abordagens terapêuticas, articulações entre as várias disciplinas e até caminhos espirituais. Como fazer chegar tudo isso às pessoas mais carentes e abandonadas? Conheci o Dr. Adalberto e sua proposta, um médico, professor de Universidade, pós-doutor em antropologia e psiquiatria e com uma capacidade ímpar de interlocução com as pessoas simples. Capacidade de interagir numa linguagem compreensível que alcança seu objetivo – o coração daqueles que sofrem. Um verdadeiro encontro EU-TU, e não EU-ISSO, como diz o filósofo Martin Buber. Depois de percorrer tão avidamente a proposta da Gestalt Terapia sobre o Encontro, o “between us”, a relação sem a priori, pude sentir verdadeiramente na pessoa e na proposta do Adalberto toda essa compreensão. Pude sentir que não podemos nos restringir aos consultórios, às quatro paredes, atrás das mesas. Temos que tirar as máscaras institucionais e transcender aos muros. Sair das nossas prisões acadêmicas, cerceadoras de nossos afetos e criatividade. Daí em diante meu processo tem sido expandir, dar expressão e materializar a Terapia Comunitária. De fato me encontrei.

2) RS – O que é a Terapia Comunitária e como surgiu?
HC – Surgiu das pessoas sem poder, sem acesso ao poder, achatadas pelo poder, manipuladas pelo poder. Surgiu entre as pessoas do Pirambu, favela da cidade de Fortaleza, 180.000 habitantes, onde o Prof. Adalberto, respondendo ao pedido do advogado e militante dos direitos humanos, Airton Barreto, se disponibilizou ao atendimento à saúde mental daquelas pessoas. O que é a Terapia Comunitária se mescla ao processo de nascimento dela. Não foi construída a partir de uma concepção teórica. Pelo contrário, nasceu das sinalizações que as pessoas sofridas faziam: da exposição de seu sofrimento, das possibilidades de alternativas para solucionar seus problemas, das parcerias entre elas, da solidariedade pessoa a pessoa, do grupo para com o grupo. O Dr. Barreto teve essa preciosa sensibilidade: escutar a intimidade do sofrer e perceber que esse próprio sofrer transcende e se auto-reconstrói em humanidade – processo este denominado resiliência. A partir das reuniões semanais, do encontro com essa comunidade, o Professor sistematizou a metodologia aqui discutida. A realização da TC acontece em reuniões sistemáticas, cada sessão tem um começo, meio e fim, permitindo assim que as pessoas compareçam livremente e quando necessitarem. O processo metodológico caminha em três etapas: introdução, desenvolvimento e finalização. Na introdução apresenta-se o que é a TC e as regras do grupo. No desenvolvimento, as pessoas apresentam seus conflitos, o grupo escolhe o tema do dia, a pessoa escolhida explicita melhor sua situação e depois o grupo pega o mote do problema e fala de experiências similares ou parecidas, vivenciadas e das soluções pessoais encontradas para a resolução das mesmas. Na finalização, a pergunta chave é “o que estou levando daqui, o que aprendi”. Em forma de círculo, numa confraternização sistêmica, o grupo exalta os feitos positivos e se exulta numa descoberta de suas próprias potencialidades.

3) RS – Quais os benefícios que podem ser alcançados com a Terapia Comunitária?
HC – Basicamente o grupo descobre que a saída é coletiva, apesar de não se desconsiderar o aspecto pessoal, íntimo, da resolução de suas próprias questões. A Rede construída vai sendo o cimento para a caminhada de todos e re-alimentação para as conquistas. Desde então as pessoas tomam outra cara, a cara da alegria de ser-se junto. De acordo com os grupos onde a TC é aplicada, os resultados vão se expressando, principalmente reforçando os objetivos propostos por aquele grupo. Por exemplo, quando aplicada ao grupo de familiares de adolescentes em conflitos com a lei, ajuda esses pais a descobrir seu papel de amorosidade e de responsabilidade na inserção social daquele filho. Quando usada em Programa de Saúde da Família, instrumentaliza os profissionais ao trabalho numa vertente coletiva e de cuidado da saúde sob uma ótica grupal.

4) RS – Como a senhora define o conceito de Responsabilidade Social?
HC – Responsabilidade Social é o exercício da condição de ser humano. Nós, os humanos, sobrevivemos e existimos pelo amor vivenciado na forma mais biológica e filogenética do termo. Esse amor, intrincado na evolução cerebral do nosso humano nos tem dado a força e a capacidade de sobreviver às intempéries vivenciadas. Posso falar com convicção que o exercício da Responsabilidade Social é a realização do ser em evolução, ativação dos mecanismos neurofisiológicos em direção aos talentos e saltos da capacidade criativa. Perceber a necessidade do grupo e se colocar a serviço dela é enzima catalizadora da ampliação das conexões cerebrais e da plasticidade neuronal.

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